1ª cirurgia de epilepsia no Tocantins é realizada em hospital de Palmas: “vida nova”, diz paciente

A primeira cirurgia já feita no Tocantins para tratar epilepsia foi realizada nesta semana pela equipe do Núcleo de Neurologia do Hospital IOP, em Palmas. A paciente, Maria de Jesus Silva Queiroz, que há 10 anos sofre com fortes e recorrentes crises epilépticas, acordou nesta quinta-feira, 10, na UTI do hospital, sorridente, comunicativa e já bem recuperada do procedimento. Técnica em enfermagem há 15 anos, Maria de Jesus começa a fazer planos que antes pareciam distantes e improváveis. Agora, graças ao procedimento cirúrgico, ela dá adeus à velha rotina que a obrigava a tomar nove medicamentos por dia para controlar a doença.

“Decidi fazer a cirurgia depois de conversar muito com o neurocirurgião. Ele me orientou, fizemos vários exames e resolvemos prosseguir”, explica a paciente de 40 anos, que há 24 meses está afastada do trabalho, no Hospital Público de Paraíso do Tocantins, cidade distante 70 km de Palmas, após ter sofrido uma crise epilética dentro do hospital, durante o serviço. 

“Após a cirurgia eu não tive mais nada, mas ainda é cedo para afirmar com certeza como será agora. Pode ser que eu tenha alguma crise ainda, mas não será frequente como antes. Vou continuar tomando alguns remédios, para irmos monitorando e, aos poucos, vamos diminuindo a medicação. De agora em diante é vida nova”, disse Maria de Jesus, que é casada e mãe de três filhos, meninos de 6, 12 e 14 anos.

A cirurgia durou pouco mais de três horas e foi realizada na última segunda-feira, 7, por uma equipe multiprofissional do Hospital IOP, coordenada pelo neurocirurgião Márcio Figueiredo. “Os exames da nossa paciente mostraram que ela convive, há muitos anos, com uma esclerose mesial do lobo temporal esquerdo e nós realizamos um procedimento neurológico para controlar e diminuir as crises que ela sofre. A doença impedia que ela executasse tarefas simples como dirigir e até mesmo ficar sozinha. Ela era acometida por crises súbitas, várias vezes na semana, mesmo em uso de muitos medicamentos e até então ela não tinha uma qualidade de vida. Ela não conseguia mais exercer sua função profissional e sua vida estava sempre em risco, porque as crises convulsivas podiam, a qualquer hora, ocasionar uma parada cardíaca, uma insuficiência respiratória”, afirma Márcio Figueiredo.

O procedimento, denominado lobectomia temporal anterior, com hipocampo amigdalectomia, contou com o apoio do neurocirurgião goiano Marcelo Martins, especialista em neurocirurgia vascular e em epilepsia. Com formação na Alemanha, Marcelo Martins já realizou, com sucesso, mais de 200 procedimentos em pacientes com epilepsia, tanto em Goiânia, onde atuou por vários anos, como em Brasília, onde reside há seis anos e coordena diversas cirurgias de epilepsia, aneurisma, vascular, bypass cerebral e hipófise.

“Esta é uma cirurgia complexa, mas a paciente esteve em ótimas mãos. Palmas conta agora com um centro de tratamento especializado em neurologia, aqui no IOP, com a expertise e a competência do Márcio e de vários grandes profissionais da neurologia. Em Goiânia e em Brasília nós trabalhamos com esse pessoal aqui de Palmas, tanto encaminhando pacientes nossos para cá, quanto o pessoal daqui nos encaminhando pacientes lá. Trabalhamos nesse intercâmbio e agora, com este centro de neurocirurgias no IOP, com o tratamento de casos de epilepsia, eventualmente nossas visitas ficarão mais frequentes”, pontua Marcelo Martins.

Vida nova

“Eu gostaria de voltar ao trabalho, na enfermagem, mas o que eu mais quero mesmo é poder ficar em casa com meus filhos sem me preocupar que algo ruim vá acontecer comigo. O importante é eu estar bem, principalmente porque meu esposo trabalha fora e eu fico sozinha com meus meninos. Então fico feliz em saber que agora eu estarei melhor, para viver ao lado deles e ver nossas vidas seguirem com felicidade e sem aquele medo que eu sentia”, planeja, emocionada.

Atendimentos em neurologia e neurocirurgia

Segundo Márcio Figueiredo, a neurocirurgia está avançando cada vez mais no Tocantins e a população precisa ser beneficiada. “Essa é a primeira cirurgia específica para tratar epilepsia realizada no Tocantins. Conseguimos trazer o doutor Marcelo, que possui grande experiência no assunto, e essa cirurgia que fizemos hoje foi monitorada em tempo real. Essa é uma nova ferramenta com a qual contamos, já de um tempo para cá. Aqui no IOP nós formamos uma equipe com eletroneurofisiologistas, que garante um suporte importante nas cirurgias neurológicas. Hoje uma equipe como essa que temos é uma ferramenta fundamental para qualquer tipo de cirurgia neurológica, de coluna, para retirada de tumores e, agora, de epilepsia”, explica o neurocirurgião.

Márcio Figueiredo destaca, ainda, que até pouco tempo, quando pensava-se em realizar uma cirurgia como a de epilepsia, era preciso procurar outros centros de referência como Goiânia, Brasília ou São Paulo. “Agora isso não é mais necessário. Temos hoje um centro especializado para isso aqui na Capital. Neste ano nós estruturamos aqui no IOP um ambulatório de neurologia e neurocirurgia. Hoje o IOP é o hospital que mais atende casos que precisam da neurologia no Tocantins, sendo referência em neurocirurgia no nosso Estado. Todas as equipes de neurologia e neurocirurgia que trabalham na Capital atendem aqui no IOP, então temos um ótimo acolhimento para casos de AVC, aneurisma e agora epilepsia, com toda segurança e expertise dos melhores profissionais de toda a região Norte do país”, finaliza o médico.

Epilepsia

Uma das doenças neurológicas crônicas mais comuns, a epilepsia atinge cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, dois milhões delas só no Brasil, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). O tratamento padrão para a doença que provoca crises convulsivas recorrentes é feito com medicamentos antiepilépticos. Porém, em cerca de 30% dos casos, os remédios não funcionam. Estimativas apontam que 600 mil brasileiros que sofrem com a epilepsia poderiam ser beneficiados com o tratamento cirúrgico.

(Carlla Morena Pignato)

 

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