Em um mundo cada vez mais conectado, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos e redes sociais tem se tornado um desafio para a saúde mental, especialmente entre crianças e adolescentes. Neste contexto, o Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT/Ebserh) chama a atenção para a importância de campanhas como o Janeiro Branco, que buscam conscientizar a população sobre os cuidados com a saúde mental. Em entrevista, a psicóloga do HDT-UFT, Nara Damaceno, destacou os principais desafios enfrentados pela sociedade atual e como o uso desregulado de telas pode agravar quadros de ansiedade, depressão e isolamento social.
Janeiro Branco: uma campanha necessária
O movimento Janeiro Branco foi criado com o objetivo de promover a reflexão sobre a saúde mental, incentivando as pessoas a cuidarem de suas emoções e bem-estar psicológico. Segundo Nara Damaceno, a campanha é fundamental para reduzir o estigma em torno da busca por ajuda profissional. “Ainda existe a crença de que cuidar da saúde mental é apenas para quem sofre de transtornos graves. O Janeiro Branco serve como um alerta para prevenir, buscar tratamento e evidenciar que qualquer um de nós está sujeito a desenvolver desequilíbrios emocionais”, explica a psicóloga.
Ela ressalta que o sistema em que vivemos, que exige desempenho máximo e não permite falhas, tem contribuído para a sobrecarga emocional. “As pessoas estão priorizando o trabalho e as demandas externas em detrimento da saúde, do lazer e da qualidade de vida. Isso gera um desgaste mental significativo”, afirma.
Uso excessivo de telas: um desafio moderno
Um dos grandes desafios atuais é o uso excessivo de telas, especialmente entre crianças e adolescentes. Nara Damaceno alerta que as redes sociais, embora apresentadas como ferramentas de conexão, têm causado mais isolamento e uma falsa sensação de lazer. “As redes sociais modificaram nossa maneira de socializar, comunicar e até mesmo de pensar. Elas oferecem uma diversão breve, mas não suprem necessidades emocionais mais profundas”, explica.
A psicóloga destaca que o consumo excessivo de conteúdos digitais pode levar à fadiga mental, diminuição da concentração, procrastinação e até mesmo ao desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão. “O uso constante das redes sociais aumenta a sensação de isolamento e a comparação social, o que pode ser extremamente prejudicial”, afirma.
Impactos no desenvolvimento de crianças e adolescentes
Para crianças e adolescentes, os riscos são ainda maiores. Nara Damaceno explica que, como estão em fase de formação, o uso excessivo de telas pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais essenciais, como a negociação e a capacidade de lidar com frustrações. “O contato social limitado impede que eles desenvolvam essas habilidades, o que pode impactar negativamente sua vida adulta”, diz.
A psicóloga recomenda que pais e educadores incentivem um uso mais saudável da tecnologia. “As telas devem ser vistas como um recurso recreativo, e não como algo fundamental para a vivência. É importante que crianças e adolescentes experimentem outras atividades offline, como esportes, leitura e interações sociais presenciais”, orienta.
Estratégias para um uso equilibrado
Nara Damaceno sugere algumas estratégias para evitar os efeitos negativos do uso excessivo de telas, como estabelecer limites de tempo de exposição, intercalar atividades digitais e reais, e priorizar as atividades offline. “É importante estar atento à motivação por trás do uso dos dispositivos. Se eles estão sendo usados para estudar, descansar ou se integrar, tudo bem. Mas se o objetivo é escapar da realidade ou se isolar, isso pode ser um sinal de alerta”, explica.
Ela também recomenda práticas diárias que podem contribuir para a saúde mental, como exercícios físicos, meditação e hobbies offline. “Muitas vezes, as telas preenchem uma necessidade que temos. É importante identificar essa necessidade e buscar satisfazê-la de outras formas”, diz.
Quando procurar ajuda profissional
A psicóloga ressalta que é importante buscar ajuda profissional quando o uso das telas começa a impactar significativamente a saúde mental. Sintomas como irritabilidade, ansiedade ao se desconectar, dificuldades no sono e alterações de concentração podem indicar que é hora de procurar um especialista. “O uso excessivo de dispositivos digitais pode nos afastar da realidade, e é nela que vivemos. Precisamos estar conscientes disso para cuidar da nossa saúde mental”, finaliza.
O HDT-UFT, por meio de sua equipe multidisciplinar, reforça a importância de campanhas como o Janeiro Branco e está à disposição para oferecer suporte e orientação à população sobre os cuidados com a saúde mental em um mundo cada vez mais digital.
(Daianni Parreira)
Atualizado em 27/01/2025 por Redação