O Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), instituição filiada à Empresa Brasileira de Serviços (Ebserh), é referência em Araguaína (TO) e região no tratamento das hepatites virais. O médico especialista em gastroenterologia, Jônio Arruda Luz, é vinculado à Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins e compõe o corpo clínico da Unidade de Saúde, atuando no serviço de hepatites e fígado. O profissional fala sobre o departamento, apresenta a estatística, e conta um pouco da história, lembrando que o diagnóstico precoce é a melhor forma de se obter sucesso no tratamento. Saiba mais sobre a hepatite no link.
O serviço dispõe de uma equipe multidisciplinar que apoia o trabalho em ações educativas, orientações quanto a doença, a importância da aderência ao tratamento, os efeitos colaterais, preenchimento dos formulários, agendamentos de consultas e exames, e internação quando há necessidade, como nos casos de hepatopatia grave como a cirrose. Além da promoção em saúde, também é responsável pela atualização do banco de dados, essencial para os trabalhos de pesquisa da instituição.
Paciente
O motorista Manoel Vanderli dos Santos, motorista, 58 anos, contou um pouco de sua experiência com o serviço. “Lembro como se fosse hoje: desci do ônibus e entrei no HDT pela primeira vez e já fui muito bem atendido. A consulta era às 9 horas, e eu trazia alguns exames; mostrei ao médico, que me pediu outros para confirmar as suspeitas de cirrose. No próprio HDT, já fiz todos os exames, muito rápido, quando foi constatado que realmente estava com a doença. Em um mês, eu já estava tomando a medicação, que tomo até hoje, por conta da hepatite B”, disse em depoimento que pode ser conferido na íntegra no link.
Histórico
O médico conta que bem antes da federalização do hospital, ocorrida em 2015, há cerca de 20 anos foi iniciada a oferta do serviço. Ao longo dos anos foi adquirindo os recursos técnicos, como os exames de Biologia Molecular, realização mais rápida das sorologias, e serviços terceirizados para realização de outros exames.
Foram definidos também os centros de melhor acesso para realização de transplante hepático nos casos de doença hepática terminal. Recentemente o mundo vem vivenciando uma grande revolução no tratamento da hepatite C, por exemplo, enquanto que as conquistas também no próprio serviço do HDT-UFT após sua federalização, os exames de imagem, a melhoria nas instalações do Hospital, também fazem parte dos fatores que consolidaram o Serviço de Hepatites e Fígado que atende a região. Nesse aspecto, o serviço experimenta atualmente um momento de grandes resultados.
Informações relevantes sobre a doença
De acordo com o especialista, as informações a seguir são de suma importância para o entendimento mais abrangente sobre a doença.
As hepatites virais agudas e crônicas são doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos, classicamente definidos pelas letras do alfabeto que vão de A a E. O curso clinico pode ir de uma hepatite aguda classicamente benigna à forma fulminante e fatal; entretanto as infecções subclínicas persistentes podem levar a doença hepática progressiva, evoluindo para cirrose e câncer de fígado.
As hepatites virais constituem um grave problema de saúde publica com impacto global, nacional e em nossa região. O Ministério da Saúde brasileiro estima que 1,6 % da população tenha algum tipo de hepatite viral. No entanto, boa parte desses pacientes não deve saber que tem a infecção. As hepatites virais são transmitidas por contaminação sanguínea, mas também pela ingestão de alimentos contaminados.
A revista médica The Lancet publicou recentemente um estudo mostrando que as hepatites virais, em todas as regiões do mundo, estão entre as principais causas de óbito, comprometimento, sequelas na saúde e diminuição dos anos de vida útil das pessoas. As hepatites matam mais, atualmente, que a tuberculose, HIV e malária.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em 2016 um documento intitulado “Global Helth Setor Strategy on Viral Hepatitis 2016-2021: Towards Ending Viral Hepatitis”, que objetiva eliminar a hepatite viral como uma das ameaças à saúde pública até 2030. Os dados revelam que quase todos esses países estabeleceram comitês nacionais de alto nível para a eliminação das hepatites, junto a planos e metas, e que mais da metade alocou recursos para esse fim.
Dados do HDT-UFT
Um levantamento feito até esse mês de dezembro traçou o perfil dos atendimentos das principais doenças hepáticas atendidas no serviço no período de 2017/2018, extraídos por meio de anotações diárias das características clinico-epidemiológicas das principais entidades nosológicas atendidas.
ETIOLOGIA | Nº | % |
Hepatite B | 398 | 39,8 |
Hepatite C | 202 | 20,02 |
Hepatopatia Alcoolica | 175 | 17,5 |
Cirrose-Indeterminada | 70 | 7,0 |
Doença Hepática Gordurosa | 58 | 5,8 |
Lesões Hepáticas Focais | 22 | 2,2 |
Hepatite Auto-Imune | 11 | 1,1 |
Doença Hepática por Drogas | 10 | 1,0 |
Câncer de Fígado (CHC) | 10 | 1,0 |
Transplantados | 16 | 1,6 |
Metástases | 13 | 1,3 |
Trombose da Veia Porta | 6 | 0,6 |
D. Wilson | 4 | 0,4 |
Hemocromatose | 2 | 0,2 |
D.Caroli | 2 | 0,2 |
Hidatidose | 1 | 0,1 |
Chama a atenção para Hepatite B, em todas suas formas evolutivas, uma classe de hepatite cujos números destoam dos observados na maioria dos centros brasileiros, com exceção de algumas áreas do extremo norte do País. Trata-se de uma doença com grande impacto no mundo, com formas hepáticas graves como a cirrose e o câncer, apesar das conquistas vitoriosas com o enfrentamento através de programas de imunização.
A Hepatite C aparece com número considerável, porém com o tratamento promissor com as novas drogas, com potencial de cura de quase 100%, direciona os esforços mais desafiadores para a Hepatite B para qual ainda não existe um tratamento curativo.
Com grande ênfase em números, seguem as doenças hepáticas ligadas ao uso abusivo de bebida alcoólica, as doenças hepáticas metabólicas associadas a obesidade e diabetes, principalmente. As cirroses de causa indeterminada, as lesões hepáticas medicamentosas ou tóxicas, as metástases hepáticas, as lesões hepáticas focais como os cistos, o Hemangioma, a Hiperplasia Nodular Focal e o Adenoma, as Hepatites Auto-Imunes e as doenças colestáticas. Os atendimentos dos pacientes transplantados. As doenças incomuns como a Trombose da Veia Porta, Doença de Wilson, e as raras, como a Hidatidose e Doença de Caroli, a Glicogenose.
(Daianni Parreira)