Entre 270 homens, a araguainense Luciana Tavares é um dos exemplos de mulheres guerreiras que ultrapassaram barreiras profissionais
“Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver”. Uma frase de Clarice Lispector retrata a vida real de uma mulher guerreira e batalhadora, a taxista araguainense Luciana Tavares Sabino, de 31 anos. Ela acorda antes que o sol desponte e com a determinação de quem tem que enfrentar o trânsito e a correria do dia a dia. “Parece não ser um trabalho comum para uma mulher, mas é como outro qualquer, é onde me realizo como profissional”, comentou a taxista.
Em Araguaína, são 270 taxistas homens e apenas duas mulheres. “Escolhi essa profissão por opção e gosto do que eu faço. Pode até ser que eu não seja taxista a vida inteira, por que faço faculdade de Pedagogia, mas, neste momento de minha vida me identifico e sou muito feliz”, contou.
Para o presidente do Sindicato dos Taxistas de Araguaína (Sintar), Lindomar Costa, as mulheres são mais atenciosas e dedicadas no trânsito. “Que bom seria se houvesse mais mulheres taxistas”, comentou o presidente.
Vencendo barreiras
Natural de Araguaína, filha de um mototáxi e uma vendedora de cosméticos, Luciana conta que resolveu seguir rumo diferente de sua irmã, que é professora. “Me casei e mudei com o esposo para a Bahia, lá eu me dedicava a obras sociais. Quando me divorciei e retornei para Araguaína, precisava fazer algo para sobreviver. Tinha que arrumar um emprego, então pensei: ‘Sou ótima motorista e por que não ser taxista?’”, lembrou.
Há um ano, Luciana é taxista e relata que é um trabalho comum, mas ela sempre ouve exclamações de passageiros. “Nossa! Você é mulher! Que interessante, eu nunca havia visto!”, relatou.
A taxista destaca que é respeitada entre os taxistas homens e sente orgulho. “É muito bom quando sou elogiada, me sinto mais confiante em continuar, já que às vezes dá um pouco de medo. Uma vez peguei uns clientes suspeitos e confesso que fiquei um pouco assustada, mas, graças a Deus, eles pagaram a corrida e foram embora”, disse.
Vaidade
Como toda mulher, Luciana não abre mão do cuidado com a beleza. Mesmo se não dá tempo para se maquiar em casa, ela faz mesmo no táxi. “Passo um pó compacto, um batom. Acredito que os clientes vão preferir andar com alguém que está bonita”, pontuou.
E são muitos clientes. Luciana conta que já tem aqueles fieis que agendam com antecedência só para andar no seu táxi. E como as mulheres profissionais que ultrapassam as barreiras profissionais, “quando o dia termina, ela tira a roupa e põe todo o seu corpo em baixo das cobertas quentes e sente que começa a sonhar, é quando ela sorri. Assim pra ninguém. Mas pra ela mesma. Ela tem certeza, viver vale a pena” (Clarice Lispector).
(Gláucia Mendes/Foto: Marcos Filho)