Presídios do Tocantins não têm sistema para bloqueio de celulares

Presídios do Tocantins não têm sistema para bloqueio de celulares

Presos compartilham fotos, áudios e até vídeos usando aparelhos. Polícia acredita que eles comandaram ataques a ônibus em Palmas

O sistema prisional tocantinense enfrenta problemas que vão além da estrutura física precária. No Estado, os presos conseguem se comunicar com comparsas, controlando ações criminosas de dentro de presídios e cadeias. Eles fazem publicações em redes sociais, compartilham fotos, áudios e até vídeos. Alguns podem, inclusive, estar lendo esta reportagem neste momento. Com tudo isso, uma coisa é certa: falta um controle maior do Estado sobre a comunicação entre os presos e todo o resto.

Um exemplo de ações criminosas que estariam sendo comandadas de dentro dos presídios são os ataques aos ônibus do transporte coletivo de Palmas, durante o fim de semana. Um deles foi alvejado por bandidos durante um tiroteio, porque o motorista se recusou a parar. Outros dois, acabaram completamente queimados, após o grupo criminoso forçar os condutores e os passageiros a descerem. A polícia acredita que um dos motivos seria a greve dos policiais civis, uma vez que visitas e outros serviços que não são considerados essenciais, estão paralisados.

Um equipamento que bloqueia o sinal dos celulares poderia resolver parte do problema da comunicação dos presos com os comparsas. No entanto, para o diretor do Sistema Penitenciário e Prisional do Tocantins, Gilciedson Tavares, investir atualmente nos aparelhos de bloqueio é bem mais complicado do que se imagina. “Além de ser um investimento alto, de R$ 1,3 milhão por unidade prisional, não é aconselhável. Isso porque as unidades prisionais ficam, em sua maioria, dentro de áreas urbanas”, explica.

O bloqueio feito dentro dessas áreas poderia afetar também a população do entorno, que não conseguiria se comunicar através dos celulares. Como solução, o diretor diz que o Estado está orçando equipamentos conhecidos como body scanners. Esses aparelhos fazem uma espécie de ‘raio X’ no corpo das pessoas e então é possível detectar se elas estão tentando entrar com armas, celulares, ou mesmo drogas, dentro dos presídios. Isso sem contar que o investimento é menor, cerca de R$ 500 mil por equipamento, sendo um por unidade prisional.

Para Gilciedson Tavares, boa parte os problemas enfrentados pelo sistema prisional no estado, são provocados pela falta de estrutura das unidades prisionais. “A maior dificuldade é que muitas das unidades prisionais são carceragem de delegacias. E essas delegacias acabaram virando cadeias públicas. No interior temos apenas carceragem de delegacia e a dificuldade é justamente essa falta de uma estrutura adequada para atender à legislação.”

Inocente até que se prove o contrário
De acordo com o diretor do sistema prisional, os presos provisórios não ficam detidos em celas separadas dos permanentes. Alguns deles ficam presos por anos aguardando julgamento, o que também contribui para a lotação das cadeias e presídios do Estado. Muitos deles, quando são julgados, já cumpriram boa parte da pena enquanto aguardavam pela decisão da Justiça. Gilciedson Tavares afirma que em torno de 30% da população carcerária são presos condenados e que o restante são provisórios.

Como funciona o sistema prisional
No Tocantins existem 43 unidades prisionais, mas apenas duas são presídios de grande porte: a Unidade de Barra da Grota, em Araguaína, no norte do estado e o Centro de Reintegração Luz do Amanhã, que funciona como presídio agrícola e está localizado em Cariri do Tocantins, na região Sul. Segundo Gilciedson Tavares, a Casa de Prisão Provisória de Palmas (CPPP) e a unidade de Araguaína são os únicos presídios cuja segurança é terceirizada, sendo estes geridos pela empresa Umanizzare.

A Unidade de Barra da Grota é a maior do Estado e abriga cerca de 440 presos, que são divididos em quatro por cela. Gilciedson Tavares explica que a segurança do presídio é feita por 20 agentes prisionais da empresa Umanizzare. Na CPP de Palmas também são 20 agentes e nas outras cadeias, a segurança é feita pelos próprios agentes da Polícia Civil, que estão cedidos para a Secretaria de Defesa e Proteção Social (SDPS).

Segundo a SDPS, as 43 unidades prisionais do Estado abrigam mais de três mil presos. O último levantamento feito pelo órgão em fevereiro, revelou que a grande maioria da população carcerária é composta por homens, sendo 2.960 contra 167 mulheres.

Fugas, tentativas, armas e celulares
Nos presídios do Estado as revistas das celas são diárias, principalmente para detectar possíveis tentativas de fuga, sendo túneis, grades serradas, entre outros. Gilciedson Tavares explica que apenas uma vez por mês é feita uma varredura geral para localizar e apreender celulares, armas, drogas, entre outros objetos.

“Para essa revista geral, precisamos compor toda uma equipe. Então nós temos que ter o apoio da Polícia Militar, dos agentes da Polícia Civil. Isso porque ela é feita toda de uma vez só. Já na revista diária, quando os presos saem para o banho de sol os agentes entram para verificar a cela, mas há o repasse de objetos para outros que não saíram. Ou seja, há uma movimentação desses objetos”, pontua.

Ressocialização
O diretor do Sistema Prisional conta que existem basicamente duas atividades de ressocialização disponíveis para os presos. “Na Unidade de Barra da Grota, por exemplo, temos uma escola instalada. São seis salas de aula. Em 2014 foram atendidos em torno de 100 presos e esse ano estamos em fase de matrículas para o início das aulas”, explica.

A outra atividade são os cursos profissionalizantes. “É uma parceria. Fazemos a triagem para saber quais presos atendem aos pré-requisitos. O parceiro entra com o material e os professores e nós entramos com o local e a parte de segurança para os profissionais que vão ministrar os cursos”, finaliza.

(Do G1, TO)

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