Questão levantou polêmica e recebeu críticas.
Empresa diz que seguiu o que estava previsto no edital
Candidatos que fizeram a prova do concurso público da Câmara dos Vereadores de Jundiaí (SP) no último domingo (2) pedem o cancelamento de uma questão do exame. A prova objetiva do concurso para agente de serviços administrativos trazia, no item 18, uma pergunta sobre o nome do empresário que ficou conhecido como “rei do camarote” (Alexander de Almeida). A projetista Vanessa Scarpa foi uma das que entraram com recurso junto à Makiyama, empresa responsável pela elaboração da prova, pedindo que a questão seja anulada.
Para ela, a pergunta é “incabível” em uma avaliação profissional. “Uma questão formulada totalmente incabível ressaltando uma fofoca da mídia, um assunto que não agrega valor de conhecimento algum. Fico muito feliz por tê-la errado, porque o meu conhecimento não se resume a isso, mas não poderia deixar passar a minha reclamação pela falta de profissionalismo desta empresa em questão”, escreveu a jovem no formulário de recurso contra a prova.
Vanessa espera que a empresa cancele a pergunta antes da dar o resultado final. “Sinceramente, não acredito que isso vá acontecer, porque vivemos em um país de impunidades”, teoriza. O valor da nota, conforme o edital, é de um ponto, sendo necessário 70 para a classificação à próxima fase. O concurso é baseado em três provas: objetiva, discursiva e prática.
Os candidatos também criticam outras questões, como a que perguntava a que times pertenciam os 17 torcedores que foram presos após se envolverem em uma briga no estádio, em Santa Catarina, durante a última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. Outra pergunta, sobre o local onde se acidentou o ex-piloto da Fórmula 1 Michael Schumacher, também foi alvo de reclamações.
“A prova estava no mínimo estranha, com fofocas no lugar de conhecimento geral. Pediram para estudar uma coisa e caiu outra. Assim fica difícil né?”, questiona. Nayara Stella também entrou com recurso pedindo que a questão sobre o “rei do camarote” seja anulada.
O edital do concurso público prevê que a prova trará questões sobre conhecimentos gerais. “Conhecimentos marcantes do cenário cultural, político, científico, econômico e social no Brasil e no mundo. Princípios de organização social, cultural, saúde, meio ambiente, política e econômica brasileira. Análise dos principais conflitos nacionais e mundiais. Assuntos de interesse geral – nacional ou internacional – amplamente veiculados, nos últimos dois anos, pela imprensa falada ou escrita de circulação nacional ou local – rádio, televisão, jornais, revistas e/ou internet”, diz o edital.
Segundo o presidente da comissão de concursos da Câmara Municipal de Jundiaí, Fábio Nadal, o departamento não teve acesso ao conteúdo da prova e nem tem autonomia para determinar os temas a serem abordados. Segundo ele, o concurso teve 8.300 candidatos para 20 vagas disponíveis. O cargo de agente de serviços administrativos tem salário de R$ 2.570.
Outro lado
Em nota, a assessoria de imprensa da Makiyama informou os critérios usados para a seleção das questões. Confira:
1. Utilizar notícias amplamente veiculadas nos meios de comunicação, priorizando as
mais recentes, pois, se selecionássemos notícias um pouco menos recentes, com até
dois anos de veiculação, como prevê o edital, o grau de dificuldade das questões seria
maior, uma vez que a tendência é lembrarmos daquilo que estamos vivenciando, e não
do já vivenciado. Assim, considerando o nível de escolaridade exigido e as atribuições
do cargo, entendemos que as perguntas utilizadas apresentavam um nível de
dificuldade coerente.
2. Considerar a importância da pergunta para o cargo. Quando lemos uma notícia,
entramos em contato com uma determinada estrutura de texto que nos traz uma
situação que, para ser interpretada, requer do leitor algumas competências e alguns
conhecimentos específicos.
Julgamos que para o exercício das funções do cargo de Agente de Serviços Administrativos é
importante que candidatos que tenham apurada competência de leitura – nas linhas, nas
entrelinhas e por trás das linhas -, sendo capazes de considerar nos textos o maior número de
informações possível, sejam os selecionados, pois o exercício do seu trabalho requererá que
ele dê encaminhamento a tarefas a partir de sua compreensão, e desconsiderar informações
contidas em textos, por exemplo, ainda que tais informações sejam um nome pessoal, o nome
de uma instituição ou uma localização geográfica, pode trazer equívocos ou prejuízos no
desempenho dos trabalhos.
A pergunta sobre o “Rei do Camarote” tornou-se bastante polêmica e foi interpretada como
superficial. No entanto, em um país ainda de desigualdades como o nosso, acreditamos ser de
extrema importância conhecer o que acontece, como acontece e por que as coisas acontecem.
Saber e indignar-se são os primeiros passos para construirmos uma realidade diferente e,
quem sabe, mais justa.
Concluindo, esclarecemos que as questões desta prova abordam os seguintes contextos:
segurança pública, localização geográfica, desigualdade social e violência nos esportes, todos
extremamente relevantes para a reflexão sobre o mundo, a formação de opinião e a nossa
decisão acerca de qual é nosso papel social diante desses fatos.
(G1)
